domingo, 10 de abril de 2011

Artigos Com Psicologia

DIZER “NÃO” TAMBÉM É AMOR!!!

A importância do “Não” na criação de um clima estável e seguro para a Criança


 Uma das maiores dificuldades na educação de uma criança consiste na tarefa de saber dosar amor e permissividade com limite e autoridade. Todos temos consciência da importância de impôr limites, mas isso, parece não ser suficiente para fazer desta uma tarefa fácil. Os pais frequentemente deparam-se com muitas dúvidas: Estou a agir certo? Onde eu errei? Por que ele não me obedece?


Falar de transmitir o “Não” é falar de impôr regras e limites.
As regras e os limites são fundamentais para que a criança se desenvolva psicologicamente saudável.
Como nos diz Winnicott, a mãe tem um papel singular no desenvolvimento emocional da criança, sendo esta imprescindível em todo o processo no qual a criança atinge a unificação do self.  Segundo o autor, é a natureza emocional da relação e as trocas interactivas mãe-bebé que funcionam como alicerces para a diferenciação e estruturação do self, ou seja, é o vínculo emocional e físico estabelecido entre a díade que determina as bases para o saudável desenvolvimento das competências inatas do indivíduo.  Desde logo, que a principal tarefa da mãe é a preocupação materna primária, é o seu estado característico de dedicação que permite, não só, oferecer-se naturalmente e de bom grado para cuidar do/a filho/a, como também, ser capaz de providenciar experiências positivas que permitam que o Eu incipiente do bebé emirja, fornecendo para tal um meio seguro no seio do qual o bebé é experienciado e contido.
Winnicott defende que se a mãe for portadora desta condição psicológica será uma mãe “suficientemente boa”, pois efectua uma adaptação activa às necessidades do bebé diminuindo, gradualmente, esta adaptação consoante sente que o/a seu/sua filho/a é capaz de lidar com a frustração na sua ausência. Uma mãe “suficientemente boa” consegue responder à omnipotência do filho, dar-lhe sentido e promover a integração do ego da criança. Assim, mediante a força que a mãe dá ao ego do filho, através da implementação das expressões omnipotentes, este vai progressivamente adquirir vida autónoma.
Neste sentido, é desde muito cedo, que os pais devem começar a estabelecer os limites na sua criança! Os pais ao não responderem de imediato às solicitações do/a seu/sua bebé, estão a ensinar-lhe desde logo a gerir e a aumentar a sua capacidade de tolerância à frustração, e consequentemente, a ensinar-lhes  a serem crianças mais felizes.
Para percebermos melhor esta questão, é importante analisar como a noção do proibido  vai constituindo-se ao longo do desenvolvimento infantil, pois só assim, se torna mais fácil compreender o comportamento da criança.
Até ao fim do primeiro ano de vida, a criança obedece ao princípio primordial da vida humana -  o Princípio do Prazer - por isso procura apenas fazer o que lhe causa satisfação e tenta “fugir” do que é vivido como algo desprazeroso. Nesse estádio do desenvolvimento, age por impulso instintivo. Esse é o primeiro sistema de funcionamento mental, o mais primitivo e existente desde o nascimento do indivíduo, que é denominado de id. O id é essencialmente impulsivo – age primeiro e pensa depois. É imperioso, intolerante, egoísta e amoral; é agressivo, sexual, destrutivo, ciumento, enfim, é tudo que existe de selvagem em nossa natureza. Assim, a criança quer fazer tudo o que lhe vem à mente: deseja o que vê, imita o que fazem ao seu redor e tem permanentemente insaciável e activa a sua curiosidade que, frequentemente, aborrece, preocupa e constrange as pessoas. Ao mesmo tempo, essa impulsividade é uma das necessidades mais prementes em seu desenvolvimento, que, quando reprimida, gera crianças sem brilho, apáticas, desinteressadas e rigidamente bem comportadas. A necessidade de tocar, apalpar, mexer, demonstrar, destruir, desfazer e tentar reconstruir objetos são atividades importantíssimas e fazem parte de sua forma de entrar em contato com o mundo externo.
A partir dos 18 meses, a criança começa a opor-se para afirmar-se e existir por si mesma. É o início da fase do “Não”, tão temida pelos pais, e que termina, na melhor das hipóteses, por volta dos três ou quatro anos. Nessa fase, trata-se de uma oposição sistemática, porém necessária à estruturação e organização de sua personalidade. Para uma criança, dizer "não" significa apenas: "Eu acho que não! E você?" Ela quer simplesmente uma resposta dos pais que, favorável ou não, terá, pelo menos, o mérito de indicar os limites.
A partir dos três ou quatro anos, a criança passa, pouco a pouco, do "não" sistemático – modo de comunicação arcaico, mas necessário ao seu desenvolvimento – para o "não" refletido, que afirma seus gostos e escolhas.
Percebemos, então que os primeiros anos de vida da criança são os mais importantes, pois é quando se configura aquilo que vai ser a sua personalidade, é quando grande parte da sua estrutura mental  vai organizar-se.
Para se tornarem adultos maduros, as crianças precisam de ter uma série de normas e de limites bem claros. E quando a família não lhes dá essa base, facilmente se tornam manipuladoras, estando constantemente a testar os limites.

Na Prática, Como Impor Regras e Limites???

v     Os pais não devem ser companheiros dos seus filhos, mas sim orientadores, isto é, os filhos contam que os pais exerçam o papel de pais, porque mais ninguém o fará. Uma dose q.b. de autoridade vai fornecer-lhes a estabilidade e a segurança diárias de que necessitam.

v     Outro factor importante é o facto de existirem diferentes limites e regras para os diferentes tipos de idade. É importante que os pais reconheçam as diferentes fases pelas quais as crianças passam e se consigam inteirar das mesmas. E que nunca transmitam qualquer tipo de insegurança, porque as crianças rapidamente percebem quando os pais não se sentem seguros, e um pai que não é seguro transmite essa insegurança aos seus filhos.

v     É no equilíbrio entre a negociação diária e uma autoridade regrada que vai conseguir contrariar a teimosia e tirania das crianças. Daí que dizer “Não” seja, de facto, importante. Mas essa autoridade deve viver a par com uma negociação que se pode pôr em prática nas mais variadas actividades do quotidiano. O diálogo é uma das principais ferramentas na educação de uma criança, contudo este só funciona quando elas estão de facto a ouvir, o que só acontece quando estão tranquilas e não durante as suas birras. É um erro tentar explicar algo nessa altura, porque esse é o momento de actuar, de impor os limites.

v     Se as crianças não errarem e não souberem como ultrapassar as dificuldades pertencentes aos seus erros, dificilmente serão crianças felizes. A criança tem de se acostumar a pequenas frustrações e não a ter tudo o que lhe apetece naquele momento, porque essas frustrações fazem parte da vida. Se facilitarmos tudo no momento, isso vai resultar num adulto que facilmente se perderá quando surgir algum tipo de dificuldade. E isto porque nunca lhe foram criadas situações de ter de lidar com a frustração.

Desta forma é importante que os pais estejam bem presentes na vida dos/as seus/suas filhos/as, constituindo o pilar das suas vidas. Se os pais e educadores souberem escutar e actuar no momento certo, o que implica um “Não firme”, as crianças irão respeitá-los e reforçar as suas próprias capacidades de superar momentos e dificuldades.

                                                                                                   Telma Serrão
                                                                                                Psicóloga Clínica

 

Sem comentários:

Enviar um comentário