terça-feira, 29 de março de 2011

As Mordidelas (Fada Orientadora)

Na fase do 1 aos 3 anos as crianças ainda estão a aprender a lidar com os outros, as regras de convivência e de viver em sociedade não estão nada assentes, o seu vocabulário e expressão não permitem ainda defender-se e expressar-se junto dos outros e a dentada ou o empurrão acontece como sendo a única forma de se evidenciarem e fazerem-se valer face aos outros.
A dificuldade em partilhar, tirar coisas uns dos outros, a disputa pelas pessoas e pelos brinquedos é expressa de uma forma mais física e nada verbal, daí as agressões e as dentadinhas.
As dentadas podem acontecer quando a criança está excitada ou quando a criança ainda não possui o vocabulário e a linguagem para se exprimir. É uma fase passageira, mas para que esta não se prolongue por tanto tempo, a eficácia na sua repreensão é fundamental.
Quando uma criança morde acaba por chamar a si muita e toda a atenção, talvez maior que aquela que inicialmente pretendia. Uma vez que as crianças se imitam umas às outras, as outras crianças podem começar a morder também e isto é o que, geralmente, acontece na creche ou nos Jardins.
A criança tem o seu primeiro contacto com o mundo através da boca, pelo seio materno, que lhe proporciona o prazer de saciar sua fome. Em razão dessa relação de prazer, à medida que cresce leva outras coisas à boca, como as mãos e os pés. Aos poucos vai tentando saborear outros objectos e até mesmo as pessoas, na tentativa de conhecer e descobrir melhor o mundo.
A fase oral é dividida em duas etapas, a de sucção e a de mordida. Na fase da mordida "há uma tendência a destruir, morder, triturar o objecto antes de incorporá-lo". Essa fase é dividida em duas características principais, sendo oral receptiva, quando o sujeito não passa por privações, tornando-se uma criança muito generosa e oral agressiva que aparece uma "tendência a odiar e destruir, a ter ciúmes da atenção que outros recebem, a nunca estar satisfeito com o que tem e a desejar que os outros não tenham algumas coisas, mesmo que não as queira para si".
A criança que morde, na verdade, está à procura de uma forma prazeirosa de se expressar com o mundo, de se descobrir dentro dele, pois nesta fase a sua libido está centrada na boca, na porção superior do trato digestivo.
Através desse contacto, aos poucos vai percebendo várias diferenças como doce e salgado, duro e mole. E na escola, ao morder um amigo, descobre novas sensações de prazer, como em ver o susto, a reacção, o choro do outro. A partir dessa sensação agradável, volta a fazer repetidamente.
As mordidas acontecem em situações de disputa por brinquedos ou quando entra uma criança nova no grupo, causando emoções como insegurança, medo da perda ou ciúmes do novato, já que a educadora está com a atenção mais voltada para o mesmo. Como não consegue administrar seus sentimentos, manifesta o incómodo através da mordida.
Nunca é nem nunca será solução assustar a criança e repreendê-la fisicamente pelo acto cometido, uma voz firme no momento exacto será suficiente para repreender o acto, se essa situação já se tiver prolongado e a criança já tenha por hábito esse gesto, o ideal talvez seja colocar a criança numa posição menos agradável, colocando-a de parte dos outros, retirando-lhe um brinquedo de que goste muito e explicar-lhe da melhor forma que essa não é solução, ensinando-a a dizer não, quando contrariada pelo colega ou a chamar o adulto quando precisa de alguma coisa. Conversar com as crianças, tanto com a que foi mordida como com quem a mordeu, é um exemplo de que não é com violência que se resolve as situações. Outra estratégia a tentar será falar primeiro com a criança que foi mordida de modo a não dar tanta atenção à criança que mordeu, de modo a que esta nunca associe a violência a uma chamada de atenção.
É importante detectar as situações logo de início, uma vez que se trata de um hábito que se pode manter, o facto de fazer com que não se torne um hábito é um ganho. Há que trabalhar com as crianças as suas capacidades de comunicação com os outros e ensiná-las a respeitar-se mutuamente. É uma capacidade que tem que ser cultivada e adquirida pela criança.


Texto adaptado

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